A Hora da Estrela.
Obra de Clarice Lispector.
Irei colocar um trechinho dessa história pra vocês ficarem
com vontade de quero mais. Colocarei também alguns questionários que caem em
vestibulares e a trajetória da Clarice Lispector. Espero que vocês gostem.
Em seu romance, Clarice criou um narrador fictício, que
relata a vida da jovem nordestina Macabea, que ao mesmo tempo reflete sobre os
sonhos, manias e os conflitos internos da garota.
“Nessa historia, o narrador conta a história
de Macabéa, jovem alagoana de 19 anos que vive no Rio de Janeiro. Órfã, mal se
lembrava dos pais, que morreram quando ela era ainda criança. Foi criada por
uma tia muito religiosa e moralista, cheia de superstições e tabus, os quais
ela passou para a sobrinha.
Essa tia também tinha certo prazer mórbido em
castigar Macabéa com cascudos na cabeça, muitas vezes sem motivo, além de
privá-la de sua única paixão: a goiabada com queijo na sobremesa. Assim, depois
de uma infância miserável, sem conforto nem amor, sem ter tido amigos nem
animais de estimação, Macabéa vai para a cidade grande com a tia.
Apesar de ter
estudado pouco e não saber escrever direito, Macabéa faz um curso de
datilografia e consegue um emprego, no qual recebe menos que o salário mínimo.
Após a morte da tia, deixa de ir à igreja e passa a repartir um quarto de
pensão com quatro balconistas de uma loja popular.
Macabéa cheirava mal, pois raramente tomava banho.
À noite, não dormia direito por causa da tosse persistente, da azia — em
virtude do café frio que tomava antes de se deitar — e da fome, que ela
disfarçava comendo pedacinhos de papel.
A moça tinha hábitos e manias que aliviavam um
pouco a solidão e o vazio de sua existência. Entretinha-se ouvindo a Rádio
Relógio num aparelho emprestado de uma das colegas. Essa emissora informava a
hora certa, transmitia cultura inútil e propaganda, sem nenhuma música. A
garota colecionava também anúncios de jornais e revistas, que colava num álbum.
Certa vez, cobiçou um creme cosmético, que preferia comer em vez de passar na
pele.
Era muito magra e pálida, pois não se alimentava
direito. Basicamente vivia de cachorro-quente com Coca-Cola, que comia na hora
do almoço, em pé, no balcão de uma lanchonete ou no escritório em que
trabalhava. Não sabia o que era uma refeição quente. Seus luxos consistiam em
pintar de vermelho as unhas, que roía depois, comprar uma rosa e, quando
recebia o salário, ir ao cinema, o que a fazia desejar ser estrela de cinema,
como Marilyn Monroe, seu grande sonho.”
“Certo dia, o chefe
de Macabéa, Raimundo, cansado do péssimo trabalho que ela executava, com textos
datilografados cheios de erros de ortografia e marcas de gordura, resolve
despedi-la. A reação da garota, de se desculpar pelo aborrecimento causado,
acaba desarmando Raimundo, que decide mantê-la por mais um tempo.
Num dia 7 de maio, Macabéa mente dizendo que arrancaria
um dente e falta ao trabalho para poder aproveitar a liberdade da solidão e
fazer algo diferente. Assim que as colegas saem para trabalhar, ela coloca uma
música alta, dança, toma café solúvel e até mesmo se dá ao luxo de se entediar.
É nesse dia que conhece Olímpico de Jesus, único namorado que teve.
Não foi um namoro convencional. Olímpico também
havia migrado do Nordeste, onde matara um homem, fugindo para o Rio de Janeiro.
Conseguira emprego numa metalúrgica, o que dá delírios de grandeza em Macabéa.
Afinal, ambos tinham profissão: ela era datilógrafa e ele, metalúrgico.
Mau-caráter e ambicioso, Olímpico morava de favor
no trabalho, roubava os colegas e almejava um dia ser deputado. O passeio dos
namorados era sempre seguido de chuvas e de programas gratuitos, como sentar-se
em bancos de praça para conversar. Nessas ocasiões, Olímpico se irritava com as
perguntas que Macabéa fazia, o que a levava constantemente a se desculpar, pois
não queria perdê-lo, apesar de seus maus-tratos.”
Pra vocês ficarem ligados em algumas questões
que caem no vestibular:
(FUVEST) Identifique a afirmação correta sobre A hora da estrela,
de Clarice Lispector:
(A) A força da temática social, centrada na miséria brasileira, afasta
do livro as preocupações com a linguagem, freqüentes em outros escritores da
mesma geração.
(B) Se o discurso do narrador critica principalmente a própria literatura, as
falas de Macabéa exprimem sobretudo as críticas da personagem às injustiças
sociais.
(C) O narrador retarda bastante o início da narração da história de Macabéa,
vinculando esse adiamento a um autoquestionamento radical.
(D) Os sofrimentos da migrante nordestina são realçados, no livro, pelo
contraste entre suas desventuras na cidade grande e suas lembranças de uma
infância pobre, mas vivida no aconchego familiar.
(E) O estilo do livro é caracterizado, principalmente, pela oposição de duas
variedades lingüísticas: linguagem culta, literária, em contraste com um grande
número de expressões regionais nordestinas.
O romance A Hora da Estrela tem início com uma série de autoquestionamentos radicais, tanto
de caráter pessoal, quanto metalingüístico, feitos pelo narrador Rodrigo S. M.
A história de Macabéa começa a se insinuar paulatinamente, até se tornar
dominante na narrativa, que, porém, não abandona aqueles questionamentos
críticos.
(FUVEST) Ele se aproximou e com voz cantante de
nordestino que a emocionou, perguntou-lhe:
— E se me desculpe, senhorinha,
posso convidar a passear?
— Sim, respondeu
atabalhoadamente com pressa antes que ele mudasse de idéia.
— E, se me permite, qual é
mesmo a sua graça?
— Macabéa.
— Maca — o quê?
— Bea, foi ela obrigada a
completar.
— Me desculpe mas até parece
doença, doença de pele.
Eu também acho esquisito mas
minha mãe botou ele por promessa a Nossa Senhora da Boa Morte se eu vingasse,
até um ano de idade eu não era chamada porque não tinha nome, eu preferia
continuar a nunca ser chamada em vez de ter um nome ue nin uém tem mas arece ue
deu certo — arou um instante retomando o fôlego perdido e acrescentou
desanimada e com pudor — pois como o senhor vê eu vinguei... pois é...
— Também no sertão da
Paraíba promessa é questão de grande divida de honra.
Eles não sabiam como se
passeia. Andaram sob a chuva grossa e pararam diante da vitrine de uma loja de
ferragem onde estavam expostos atrás do vidro canos, latas, parafusos grandes e
pregos. E Macabéa, com medo de que o silêncio já significasse uma ruptura,
disse ao recém-namorado:
— Eu gosto tanto de parafuso
e prego, e o senhor?
Da segunda vez em que se
encontraram caia uma chuva fininha que ensopava os ossos. Sem nem ao menos se
darem as mãos caminhavam na chuva que na cara de Macabéa parecia lágrimas
escorrendo.(Clarice Lispector, A
hora da estrela)
Neste excerto, as falas de Olímpico e Macabéa:
(A) aproximam-se do cômico, mas, no âmbito do livro, evidenciam
a oposição cultural entre a mulher nordestina e o homem do sul do País.
(B) demonstram a incapacidade de expressão verbal das personagem, reflexo da
privação econômica de que são vitimas.
(C) beiram às vezes o
absurdo, mas, no contexto da obra, adquirem um sentido de humor e sátira
social.
(D) registram, com sentimentalismo, o eterno conflito que opõe os princípios
antagônicos do Bem e do Mal.
(E) suprimem, por seu caráter ridículo, a percepção do desamparo social e
existencial das personagens.
Sobre Clarice:
Clarice Lispector nasceu em 10 de dezembro de 1920 em
Tchetchelnik, Ucrânia. Quando tinha cerca de dois meses de idade, seus pais
migraram para o Brasil, terra que considerava como sua verdadeira pátria. Em
1924, a família mudou-se para o Recife, onde iniciou seus estudos. Por volta
dos oito anos, Clarice perdeu sua mãe. Três anos depois, a família muda-se para
o Rio de Janeiro.
Ingressa em 1939 na Faculdade de Direito, e
publica no ano seguinte seu primeiro conto, Triunfo, em uma revista. Forma-se
em 1943 e casa-se no mesmo ano com o diplomata Maury Gurgel Valente, com quem
teve dois filhos. Durante seus anos de casada, mora em diversos países pela
Europa e nos Estados Unidos.
Em 1944, publica seu primeiro romance, Perto do
coração selvagem, vindo a ganhar o Prêmio Graça Aranha, da Academia Brasileira
de Letras, no ano seguinte. Separa-se de seu marido em 1959 e volta para o Rio
de Janeiro com seus dois filhos. No ano seguinte, publica seu primeiro livro de
contos, Laços de família.
Em 1967, um cigarro provoca um grande incêndio em
sua casa e Clarice fica gravemente ferida, correndo risco inclusive de ter sua
mão direita amputada. Porém, após se recuperar, continua com sua carreira
literária publicando diversos livros.
Publica em 1977 seu último livro, A hora da
estrela, vindo a ser internada pouco tempo depois com câncer. A escritora vem a
falecer no dia 9 de dezembro do mesmo ano, véspera de seu aniversário de 57
anos.
Bom, espero que vocês tenham gostado de conhecer um pouco sobre essa história e até aproxima!
Mayara C.